quinta-feira, 26 de maio de 2011

Conclusões da Conferencia sobre Sexualidade e Afectos no Autismo

Hotel Portus Cale, 21 de Maio de 2011

Oradores:
Dr. Flávio Fernandes
Dra. Alda Mira Coelho
Dra. Ana Isabel Aguiar
Martijn

No âmbito do seu plano de acção, a APEE – Autismo promoveu, no passado dia 21 de Maio de 2011, no Porto, uma conferência sobre sexualidade e afectos nas PEA. Esta iniciativa juntou mais de 100 pessoas, incluindo pais e profissionais das mais diversas formações (médicos, professores, psicólogos, enfermeiros...) com o objectivo de sensibilizar para esta temática, muitas vezes negligenciada pelos diferentes agentes.
Todos os oradores fizeram uma breve abordagem histórica do conceito da sexualidade e da sua abrangência. Sabe-se que a sexualidade foi sempre vista como um assunto Tabu e quando se fala de sexualidade relacionada com a Deficiência, esta assume um carácter ainda mais preocupante pelo acréscimo de comportamentos de risco, situações de abuso, gravidezes não desejadas, DST's .... A criança/jovem com Deficiência é muitas vezes vista como um ser assexuado e sem impulsos sexuais ou, por outro lado, excessivos comportamentos sexuais. O direito à sexualidade é um direito de TODOS.
Identificaram-se características típicas das crianças e jovens com PEA (défices cognitivos, perceptivos, dificuldades na socialização...) que podem afectar a forma como estas crianças vivenciam, experienciam e compreendem todas as questões inerentes à sexualidade e aos afectos. Foram apresentadas algumas estratégias de intervenção nos comportamentos sexuais nos diferentes contextos, tais como a masturbação. Técnicas como a restrição desta prática a locais e/ou a períodos do dia adequados e específicos, a satisfação do impulso sexual através da prática de exercício físico, podem ajudar a evitar situações que exponham a criança/jovem.
Foi consensual a ideia de que se deveria iniciar o trabalho de preparação das questões relacionadas com a sexualidade ainda antes de as crianças manifestarem qualquer iniciativa ou comportamento de carácter sexual. A necessidade de recorrer ao suporte visual como forma de antecipar questões e aumentar a compreensão da criança foi também defendida uma vez que, grande parte das crianças com PEA tem um bom processamento da informação visual. Mostrar à criança imagens de como funciona e como é constituído o sistema reprodutor feminino/masculino e as diferenças entre eles, explicar-lhes, por exemplo, com o apoio de fotos, as transformações que ocorrem desde o nascimento e as diferenças observadas no nosso corpo nas diferentes etapas do desenvolvimento. Deve-se, contudo, estar atento ao material que seleccionamos para este trabalho de forma a que este não crie, na criança/jovem, imagens distorcidas de questões não convencionais relacionadas com a sexualidade. O acesso a outros meios de informação (revistas, bandas desenhadas, internet...) deve obedecer ao mesmo critério de selecção.
A família, deve ser sempre integrada neste trabalho, assumindo uma postura de não criticar/censurar os comportamentos mas numa perspectiva de ajudar a criança/jovem a perceber em que contextos podem ou não ter determinada prática. Distinguir o público do privado é deveras importante e deve ser trabalhado desde cedo, sendo que é importante que a família também respeite a privacidade do jovem com PEA.A família deve estar atenta aos primeiros sinais da puberdade e agir com tranquilidade, antecipando as mudanças que vão ocorrer no corpo destes jovens, diminuindo assim as suas ansiedades e angústias, pelas enormes transformações e alterações às rotinas que ocorrem nesta fase.
Um plano de intervenção nas PEA deveria incluir uma vertente de apoio Psicológico, treino de competências funcionais e de autonomia, competências sociais (grupo ou individualmente), frequência de grupos recreativos, desenvolvendo aspectos que permitam à criança discriminar as diferentes emoções, pois todas estas premissas serão importantes na forma como a criança expressa e vivencia a sua sexualidade e afectos.
A sensibilização aos pares é um aspecto que também deveria ser mais valorizado uma vez que estes podem ajudar a minorar alguns comportamentos desajustados e/ou alertar mais facilmente os adultos para eventuais situações lesivas para a criança ou jovem com PEA que não se consegue expressar ou que, não descodifica determinado comportamento como suspeito ou não discrimina a diferença entre “afecto” e “abuso”.
Em casos mais graves, com comportamentos muito desajustados, pode ser necessário recorrer a psicofármacos com o objectivo de diminuir a libido. Contudo, esta atitude deve ser bem ponderada, defendeu a Dra. Alda Mira Coelho.
O testemunho do Martijn, um adulto com diagnóstico de autismo, entusiasmou a plateia que mesmo com algum esforço para entender a língua (o Martijn falou em Interlingua), se manteve sempre atento. Martijn tem 2 filhos e mantém um relacionamento com uma companheira (também ela com Autismo), que vive num outro País. Contudo, desde cedo e à semelhança de outros indivíduos com Autismo, nunca pensou chegar a ter um relacionamento amoroso com uma companheira e ter filhos.
Torna-se cada vez mais importante e urgente incluir uma vertente de Educação Sexual nos programas de intervenção da criança com PEA, (in) formando os diferentes intervenientes., promovendo uma vivência saudável e adequada da sexualidade e prevenindo eventuais situações de abuso ou outras lesivas para a criança ou jovem e os outros.


Por: Dra. Daniela Santos (Membro do Conselho Consultivo da APEE Autismo)

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