segunda-feira, 5 de março de 2012

Desafios à Matemática num Currículo Escolar Funcional

O termo "Matemática funcional" pode parecer um conceito um pouco contraditório: enquanto a matemática remete para pensamento - a abstração que leva ao raciocínio - a funcionalidade reflete a necessidade de tornar útil as aprendizagens efetuadas. Neste sentido, implica a tentativa de aproveitar o pensamento matemático para ajudar na funcionalidade que cada criança necessita.
Tendo em conta que Matemática é abstração e pensamento, todos os conceitos matemáticos são abstratos (por mais elementares que sejam, dependem sempre do pensamento de cada um). Assim sendo, quem apresenta deficiência intelectual acentuada manifesta limitações na capacidade de abstrair, refletindo-se na limitação em relação à aprendizagem matemática.
O conhecimento matemático é hierarquizado pois é preciso ter conhecimento básico para evoluir para os conceitos seguintes. É necessário começar pelos conceitos elementares, perceber o que a criança sabe e partir daí para levar a mesa a construir o seu saber. Não é possível aprender conceitos que dependem de outros mais simples sem aprender estes primeiro, sendo por isso que o nível de deficiência condiciona o nível de conhecimento que se pode atingir.
É importante ter em consideração que às crianças com deficiência intelectual apenas importa ensinar / trabalhar o que for útil para a funcionalidade do dia-a-dia; o essencial é desenvolver competências práticas, tentando criar comportamentos operantes e dar segurança aos mesmos.
Deste modo, é importante usar estratégias que valorizem o resultado, o produto obtido, e não o processo. É necessário utilizar a repetição e a imitação como meio de desenvolvimento de certas competências. Através do treino, da repetição e do desenvolvimento da memória, associado sempre a um reforço positivo, é mais fácil proporcionar a estas crianças as aprendizagens necessárias. O uso de materiais como complemento destas aprendizagens torna-se fundamental na aquisição destes conhecimentos, sendo de salientar a importância dos ensinamentos de curta duração seguidos de correção ou reforço positivo imediato, com intervalos de algum tempo, na obtenção de melhores resultados.
As questões visuais são as mais indicadas para pessoas com incapacidades intelectuais pois ajudam a interiorizar os conceitos matemáticos. Neste sentido, a linguagem matemática gráfica nem sempre se torna fulcral; depende da criança com quem trabalhamos e há que se adequar tudo ao aluno em questão.
A Matemática num Currículo Escolar Funcional depara-se com alguns desafios: a deteção e caracterização dos problemas de abstração do aluno; a definição dos patamares cognitivos matemáticos adquiridos pelo aluno nas diferentes áreas; a elaboração de um plano de aprendizagem nas diferentes áreas, de dificuldade crescente a nível concetual e representacional, suportado nos patamares anteriores; a definição de patamares de aprendizagem concetual e representacional do aluno nas diferentes áreas; a elaboração de um programa de aprendizagens de atividades funcionais visando a sua autonomia e determinadas pelas potencialidades, apetências, necessidades e interesses demonstradas pelo aluno, nas áreas: a) rotinas, b) horários, c) transportes, d) orientação espacial e temporal, e) contagens, f) uso do telefone e g) dinheiro.
Na procura de identificação de dificuldades em crianças com deficiência intelectual podem-se trabalhar diferentes temas, os quais podem ser abordados com diferentes tarefas que ajudam a compreender as capacidades de cada criança, tarefas essas que vão ser apresentados segundo a sua ordem de complexidade:
Ao nível dos conceitos logico-matemáticos pode-se:
- Ordenar objetos;
- Introduzir um objeto numa sequência já ordenada;
- Dispor conjuntos de objetos em correspondência termo a termo;
- Indicar características (positivas) de diferentes objetos (utilização da conjunção "e" / "ou");
- Comparar objetos segundo as suas características (comuns e não comuns);
- Formar conjuntos segundo diferentes critérios;
- Definir padrões em sequências de figuras.
Na orientação espacial pode-se introduzir:
- Termos de orientação: esquerda / direita, em cima / em baixo, à frente / atrás, longe / perto - sendo que é importante começar por referir os termos em situações do quotidiano, referentes ao mundo da criança e ao que já conhece;
- Percursos usando pontos de referência fixos;
- Leitura de maquetes e plantas.
Referente à orientação temporal pode-se abordar:
- Termos relacionados com as rotinas diárias - começando pela diferença entre dia, noite e fim de semana / semana (ideias mais presentes no dia-a-dia da criança associado à rotina da escola);
- Termos relacionados com o presente, o passado, o futuro: antes, depois, agora, hoje, ontem, manhã, logo…;
- Narração de histórias e relatos de acontecimentos;
- Leitura das horas (utilizando essencialmente relógios digitais).
Na aprendizagem dos números e numerais, dentro dos conceitos pode-se utilizar:
- Contagem de objetos - numerais ordinais;
- Contagem de objetos - passagem do ordinal para o cardinal;
- Associação de numerais orais à ordem (ordinais) e à quantidade (cardinais) respetiva;
- Uso de operadores aditivos (+1, +2, +3);
- Uso de operadores subtrativos (-1, -2, -3);
- Associação de operadores à ação: acrescentar, somar, tirar (8-3=?), completar (quanto falta de 5 para 8), subtrair, …;
- Uso de operadores aditivos e subtrativos graficamente - neste ponto a calculadora pode ser usada como instrumento / auxílio na escrita dos números.
Ainda dentro dos números e numerais mas respeitante às representações, pode-se abordar:
- Cadeia numérica crescente cardinal;
- Cadeia numérica decrescente cardinal;
- Cadeia numérica decrescente ordinal;
- Numerais cardinais gráficos (leitura e depois escrita);
- Representação gráfica das contagens orais (dos objetos e mais tarde dos numerais, e no fim o cardinal);
- Numerais ordinais gráficos;
- Comparação e ordenação dos numerais;
- Organização dos sistemas de numeração (unidade, dezena, centena).
Por fim, mas não menos importante, na geometria e grandezas é possível trabalhar:
- Formas geométricas;
- Comparação de comprimentos de objetos, usando escalas ordinais (pequeno, grande, médio);
- Comparação de volumes, peso e temperatura de objetos, usando escalas ordinais (pequeno, grande, médio);
- Medição de comprimento de objetos usando objetos do quotidiano como unidade de medição;
- Uso de termos relacionados com o presente, passado, futuro: antes, depois, agora, hoje, ontem, amanha, logo…;
- Leitura de horas;
- Uso do dinheiro – este ponto é complicado de aprender por parte das crianças com incapacidades intelectuais acentuadas porque lida com diferentes unidades - cêntimos e euros.
Importa ainda ressalvar que, como já referido, a matemática é hierarquizada; todas as aprendizagens dependem das aprendizagens anteriores, sendo que se a criança não conseguir atingir um destes patamares dificilmente conseguirá progredir para os seguintes.
Por outro lado, é fulcral ter em atenção o facto de que a matemática não se cinge à escrita, sendo que não é necessário entrar na escrita quando as crianças a isso não são capazes.

O termo "Matemática funcional" pode parecer um conceito um pouco contraditório: enquanto a matemática remete para pensamento - a abstração que leva ao raciocínio - a funcionalidade reflete a necessidade de tornar útil as aprendizagens efetuadas. Neste sentido, implica a tentativa de aproveitar o pensamento matemático para ajudar na funcionalidade que cada criança necessita.
Tendo em conta que Matemática é abstração e pensamento, todos os conceitos matemáticos são abstratos (por mais elementares que sejam, dependem sempre do pensamento de cada um). Assim sendo, quem apresenta deficiência intelectual acentuada manifesta limitações na capacidade de abstrair, refletindo-se na limitação em relação à aprendizagem matemática.
O conhecimento matemático é hierarquizado pois é preciso ter conhecimento básico para evoluir para os conceitos seguintes. É necessário começar pelos conceitos elementares, perceber o que a criança sabe e partir daí para levar a mesa a construir o seu saber. Não é possível aprender conceitos que dependem de outros mais simples sem aprender estes primeiro, sendo por isso que o nível de deficiência condiciona o nível de conhecimento que se pode atingir.
É importante ter em consideração que às crianças com deficiência intelectual apenas importa ensinar / trabalhar o que for útil para a funcionalidade do dia-a-dia; o essencial é desenvolver competências práticas, tentando criar comportamentos operantes e dar segurança aos mesmos.
Deste modo, é importante usar estratégias que valorizem o resultado, o produto obtido, e não o processo. É necessário utilizar a repetição e a imitação como meio de desenvolvimento de certas competências. Através do treino, da repetição e do desenvolvimento da memória, associado sempre a um reforço positivo, é mais fácil proporcionar a estas crianças as aprendizagens necessárias. O uso de materiais como complemento destas aprendizagens torna-se fundamental na aquisição destes conhecimentos, sendo de salientar a importância dos ensinamentos de curta duração seguidos de correção ou reforço positivo imediato, com intervalos de algum tempo, na obtenção de melhores resultados.
As questões visuais são as mais indicadas para pessoas com incapacidades intelectuais pois ajudam a interiorizar os conceitos matemáticos. Neste sentido, a linguagem matemática gráfica nem sempre se torna fulcral; depende da criança com quem trabalhamos e há que se adequar tudo ao aluno em questão.
A Matemática num Currículo Escolar Funcional depara-se com alguns desafios: a deteção e caracterização dos problemas de abstração do aluno; a definição dos patamares cognitivos matemáticos adquiridos pelo aluno nas diferentes áreas; a elaboração de um plano de aprendizagem nas diferentes áreas, de dificuldade crescente a nível concetual e representacional, suportado nos patamares anteriores; a definição de patamares de aprendizagem concetual e representacional do aluno nas diferentes áreas; a elaboração de um programa de aprendizagens de atividades funcionais visando a sua autonomia e determinadas pelas potencialidades, apetências, necessidades e interesses demonstradas pelo aluno, nas áreas: a) rotinas, b) horários, c) transportes, d) orientação espacial e temporal, e) contagens, f) uso do telefone e g) dinheiro.
Na procura de identificação de dificuldades em crianças com deficiência intelectual podem-se trabalhar diferentes temas, os quais podem ser abordados com diferentes tarefas que ajudam a compreender as capacidades de cada criança, tarefas essas que vão ser apresentados segundo a sua ordem de complexidade:
Ao nível dos conceitos logico-matemáticos pode-se:
- Ordenar objetos;
- Introduzir um objeto numa sequência já ordenada;
- Dispor conjuntos de objetos em correspondência termo a termo;
- Indicar características (positivas) de diferentes objetos (utilização da conjunção "e" / "ou");
- Comparar objetos segundo as suas características (comuns e não comuns);
- Formar conjuntos segundo diferentes critérios;
- Definir padrões em sequências de figuras.
Na orientação espacial pode-se introduzir:
- Termos de orientação: esquerda / direita, em cima / em baixo, à frente / atrás, longe / perto - sendo que é importante começar por referir os termos em situações do quotidiano, referentes ao mundo da criança e ao que já conhece;
- Percursos usando pontos de referência fixos;
- Leitura de maquetes e plantas.
Referente à orientação temporal pode-se abordar:
- Termos relacionados com as rotinas diárias - começando pela diferença entre dia, noite e fim de semana / semana (ideias mais presentes no dia-a-dia da criança associado à rotina da escola);
- Termos relacionados com o presente, o passado, o futuro: antes, depois, agora, hoje, ontem, manhã, logo…;
- Narração de histórias e relatos de acontecimentos;
- Leitura das horas (utilizando essencialmente relógios digitais).
Na aprendizagem dos números e numerais, dentro dos conceitos pode-se utilizar:
- Contagem de objetos - numerais ordinais;
- Contagem de objetos - passagem do ordinal para o cardinal;
- Associação de numerais orais à ordem (ordinais) e à quantidade (cardinais) respetiva;
- Uso de operadores aditivos (+1, +2, +3);
- Uso de operadores subtrativos (-1, -2, -3);
- Associação de operadores à ação: acrescentar, somar, tirar (8-3=?), completar (quanto falta de 5 para 8), subtrair, …;
- Uso de operadores aditivos e subtrativos graficamente - neste ponto a calculadora pode ser usada como instrumento / auxílio na escrita dos números.
Ainda dentro dos números e numerais mas respeitante às representações, pode-se abordar:
- Cadeia numérica crescente cardinal;
- Cadeia numérica decrescente cardinal;
- Cadeia numérica decrescente ordinal;
- Numerais cardinais gráficos (leitura e depois escrita);
- Representação gráfica das contagens orais (dos objetos e mais tarde dos numerais, e no fim o cardinal);
- Numerais ordinais gráficos;
- Comparação e ordenação dos numerais;
- Organização dos sistemas de numeração (unidade, dezena, centena).
Por fim, mas não menos importante, na geometria e grandezas é possível trabalhar:
- Formas geométricas;
- Comparação de comprimentos de objetos, usando escalas ordinais (pequeno, grande, médio);
- Comparação de volumes, peso e temperatura de objetos, usando escalas ordinais (pequeno, grande, médio);
- Medição de comprimento de objetos usando objetos do quotidiano como unidade de medição;
- Uso de termos relacionados com o presente, passado, futuro: antes, depois, agora, hoje, ontem, amanha, logo…;
- Leitura de horas;
- Uso do dinheiro – este ponto é complicado de aprender por parte das crianças com incapacidades intelectuais acentuadas porque lida com diferentes unidades - cêntimos e euros.
Importa ainda ressalvar que, como já referido, a matemática é hierarquizada; todas as aprendizagens dependem das aprendizagens anteriores, sendo que se a criança não conseguir atingir um destes patamares dificilmente conseguirá progredir para os seguintes.
Por outro lado, é fulcral ter em atenção o facto de que a matemática não se cinge à escrita, sendo que não é necessário entrar na escrita quando as crianças a isso não são capazes.

Resumo elaborado por: Ana Catarina Marques (Monitora da APEE Autismo)

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